Virgem

Este é o início. E como o escritor que têm pânico da folha branca, temo o blog em branco.

Há tanto a escolher. Direita ou esquerda? Comentários sociais ou histórias de encantar? Crítica literária? Fotografias? Diário pessoal? Gibberish? Rants contra todos os que usam estrangeirismos? Poemas? Apelos desesperados ao comentário? Coraçõezinhos, etc. e tal?

E o problema é que tenho coisas para fazer, uma tese para escrever, traduções a entregar. Mas há sempre muito que escapa, pensamentos que se imiscuem e não me deixam trabalhar e há também aquela necessidade de discutir, dizer coisas e ver o que acham disso "os outros" (os tais). No fundo, enquanto vou trabalhando (mal ou bem) naquilo que me sustenta a vida (ou não), aparecem palavras a picar-me como agulhas. Tenho de "desabafar", diria num acesso de adolescentismo. Como trabalho com palavras, há sempre esses tais excrementos do meu trabalho (traduzo e de repente tenho algo a dizer e não posso; escrevo um trabalho académico e apetece-me gritar e não posso e ficam assim restos das minhas ideias, i. é, excrementos - tenho dito).

O problema, claro está, é que, para começar, não há "outros" nas imediações. O blog vazio é também um blog fechado numa gaveta. Pode estar acessível a todos através da hiperdemocrática Internet, mas as probabilidades de alguém a quem isto interesse vir parar ao blog quase virgem são mínimas. Por isso, por enquanto, tudo se passa em circuito fechado.

Um dia, com isto mais composto (e a fúria de escrever e comunicar em geral mais acalmada), talvez se comece a espalhar a notícia, a divulgar o blog, a pedir, com mil desculpas, que alguém leia. Entrar, no fundo, no circo da blogsfera, a tentar perceber "onde se deve ser visto", por onde comentar, onde ler, aonde ir...

E sobre o quê, por amor de Deus? Gosto de tanta coisa. Literatura (Anthony Burgess é o que me está a dar); línguas (linguistics geek); os clássicos "música" e "cinema"; política espanhola (!); a incompreensão entre o mundo das Letras e das Ciências; ou a total incapacidade de todos nós de acharmos que o que os outros fazem (profissões, arte, etc.) tem algum valor (porque, afinal, é sabido que os outros andam à caça do tacho enquanto nós temos de levar este país para a frente, não é assim?).

E por aí fora. Mais vale começar.

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